A opinião do público e os rumos do jornalismo contemporâneo

Nas sociedades democráticas o jornalismo sempre foi uma fonte de incômodo.

É justo que assim seja: não se faz – ou não deveria se fazer – jornalismo com o puro intuito de agradar, seja aqueles que são alvo da análise, apuração e/ou da crítica jornalística, seja o próprio público leitor, cuja satisfação neste universo modelo adviria de fatores intrínsecos a atividade de uma imprensa séria: relato noticioso embasado em profunda apuração, linha e perfil editorais bem definidos, qualidade do quadro opinativo etc.

Feita a introdução, parece importante notar um fenômeno característico de nossa época. Com a popularização das redes sociais e a facilidade do acesso a conteúdos informativos, a exposição da mídia a crítica nunca ganhou tanta ressonância quanto nos dias atuais.

Por sua vez, esta mesma crítica é visível para qualquer um, manifesta nas caixas de comentário presentes na maioria dos sites de notícia e em redes sociais, nas quais diariamente matérias e artigos são lançados ao escrutínio público. Em outras palavras, não é possível fugir da opinião do público – nem escondê-la.

Se esta maior interatividade com o leitor trouxe ganhos para o fazer jornalístico – possibilidade de atingir um número maior de leitores, consequente extensão do debate público, velocidade da divulgação – nem por isso se pode deixar de notar os aspectos problemáticos dessa relação que ensejam uma reflexão crítica.

Pressão X Independência

É natural, quando se lida com a comunicação de massa, que se depare eventualmente com a superficialidade, julgamentos precipitados, falhas de interpretação e questões correlatas. Nesse sentido, seria ingenuidade esperar que uma matéria de vasto impacto na internet e redes sociais gerasse apenas uma participação rica, fruto de leituras atenciosas.

Temos, é verdade, exemplares disso. Todavia, a medida que se amplia a ressonância de determinada pauta, há sempre o risco de maior diluição do debate diante de fenômenos como a recepção secundária da informação – descrita por John B. Thompson no livro “A Mídia e Modernidade. Dentro desse contexto, vemos desde situações que incluem o apelo para jargões e o afloramento de animosidades até manifestações que beiram ou ultrapassam os limites da injúria e da discriminação – contra jornalistas, contra personagens de uma pauta etc.

Diante desse cenário, o que faz o jornalismo, quando ele próprio é também alvo de críticas mais ou menos fundamentadas dos leitores?

Novamente, tratando de um universo modelo do jornalismo, não seria ilógico deduzir que estas críticas – quando não se tratarem somente de injúrias, as quais devem ser julgadas segundo os mecanismos que uma sociedade democrática dispõe para amparar a própria democracia – sofreriam avaliação mediante critérios que levariam em conta apenas a excelência da produção jornalística.

Para tanto, alguns questionamentos simples já seriam bons pontos de partida: Houve alguma falha de apuração? O veículo está sendo coerente com sua linha editorial e princípios? Estas são apenas algumas das questões possíveis.

Entretanto, essa escolha pela reflexão sobre a validade da crítica não é regra. O que se observa em muitos dos casos é uma tentativa algo desesperada da mídia em adaptar-se ao contexto comunicacional contemporâneo, por meio de um apequenamento diante dos possíveis consumidores da notícia, como se o motor que impulsiona o jornalismo fossem os likes de uma rede social.

Conclusões

Fato é que o diálogo com leitores faz e sempre fez parte da rotina da imprensa.

Do mesmo modo, s críticas ao jornalismo oferecem, ao mesmo tempo, um norte para uma verificação mais detalhada sobre eventuais falhas ou coberturas que cruzam as fronteiras da opinião, partindo para mero entretenimento ou mesmo um viés difamatório (fenômeno, aliás, não raro, na comunicação contemporânea que transita em terrenos do espetáculo e da polêmica); e uma base para a reflexão de como irá se constituir a produção jornalística do futuro.

O que se observa aqui é tão somente a necessidade de que os jornais mantenham a capacidade de desafiar o seu leitor quando necessário, de levar em conta críticas pertinentes e de oferecer a ele não necessariamente afagos, mas um conteúdo íntegro, bem apurado, independente e com personalidade.